na alameda que subia para onde nos deviamos encontrar,
e não estavas; era um outono que caía sobre
as árvores do estádio, empurrando-lhes
as folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa em
que as minhas mãos deviam procurar as tuas; era
a tua ausência em todos os lugares em que eu sabia
que poderias estar à minha espera, e só a sombra
das nuvens me trazia a memória da tua passagem, como
se fosses a ave que parte quando o primeiro sopro
do inverno se anuncia.
Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancos
vazios, nos corredores melancólicos que levam para
átrios e pátios, nesses relvados onde não vale a pena
sentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer que
os teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles,
as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui,
dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; que
estás para chegar, de trás das árvores do estádio, para
limpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me que
pegue nas tuas mãos, como se o inverno
não estivesse para chegar.
Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancos
de anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me por
corredores e salas, em busca de um bar que fechou
há muito; o vento varreu as folhas da mesa
da esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro,
então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias,
poemas, o livro em que me escreveste a frase interrompida
do amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheram
de sombra todas as imagens; que os pássaros levaram
para o sul tudo o que tinhas para me dizer; que
as folhas no chão cobriram o teu corpo, antes que
o inverno tivesse de o fazer.
Nuno Júdice
Na voz de Frederico Hartley:
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