segunda-feira, 7 de abril de 2008

Os vossos poemas

O último desafio que vos lancei foi para que me enviassem os vossos poemas dedicados a outros poetas.
Conforme prometido, aqui estão todos os que me chegaram até hoje e, no final, o poema que foi escolhido para ser gravado em áudio pelo locutor Luís Gaspar.
Obrigada pela participação e... até ao próximo “espaço aberto”!



A Fernando Pessoa

a noite embala a tua dor,
mestre dos sonhos e do pensamento
cujos versos não trazem esperança

são antes lembrança de melancolia
divagação de todo o momento

saudades de uma infância perdida
impressões imaginárias de melodia
só tuas... senhor do Quinto Império.

as ondas passadas levam o amor
desconhecido para o olvido e o mistério
e cada palavra tua é a memória
de que o Poeta anseia Glória.

em tua alma o cepticismo
a loucura e o eufemismo
arrependimento e desejo de união

sofre. pois serás recordado,
por quem vive amargurado
preso nas garras desta transcendente
..................................solidão.

António João Mito


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Mensagem a um poeta vindouro...

Tu que também sentes como eu
Procurando nas palavras o descanso
Que vês o fogo a arder no céu
Entristecendo as ondas do mar manso

Tu que choras em teus versos
E pensas que a vida nada oferece
E vês o amor do gestos dispersos,
Cada linha te esconde, o que merece.

Não anseies maldade ou guerra
Ou a exaltação da tua glória...
Sente o calor húmido da terra
Sê herói sem paz nem vitória...

Junta-te ao ecoar das águas
E canta sem seres ouvido...
Ergue alto a voz e as mágoas
Que todos encerram no olvido.

E mais tarde, talvez...
Esculpas teu mórbido corpo
Ao lado dos que não vês...
Mas te inspiram, estando morto.

António João Mito


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Sou tal qual um vagabundo,
Feito de mundo,
Dono de nada.

Visto a pele de poeta,
Mas a alma trago desnuda,
Pois a alma não se veste,
A alma é essência pura.

Mordisco estes versos,
Saídos desta fome de pensar,
que me convida a agir.

A ti, amigo poeta,
Eu quero ir.

Quero levar-te um sorriso da alma,
Que te ajude a secar a lágrima,
Que no teu rosto teima em sobreviver.

Quero abraçar-te com emoção,
Para te ajudar a superar a tristeza,
Que teus olhos te dão,
Porque se deixam perturbar,
Pela iniquidade,
Pela injustiça,
Pela pobreza.

Só se é pobre de espírito, bem sei,
Mas há milhares a penar,
Sem pão,
E muitos a ostentar a opulência,
E a fazerem guerra por ambição,
Na pura conquista de mais riqueza.

Sei, que teu lamento,
É semelhante ao meu, companheiro,
É ele que nos incentiva,
nos dá o sustento,
Que nos ajuda a combater com a palavra,
A ganhar coragem,
E a gritar a verdade com firmeza.

O néscio, o inepto, o cobarde, o timorato,
Não ousam viver assim,
Apenas se consentem vegetar.

Mas venho para te dizer, amigo,
Que quero contigo repartir este grito
De revolta nossa,
E escutar no teu peito,
o eco deste sentimento,
que transformei para ti em poema.

Beatriz Barroso


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Daqui,
deste recanto em que estou,
desta esquina do que sou,
neste espaço em que me dou,
neste lugar no qual às vezes sufoco,
neste terreno em que desbravo meu ser,
no qual caio e padeço de dor,
no qual me levanto e me obrigo a crescer,
fazendo o culto de minha auto-estima,
invento-me dia a dia,
como pessoa humana.

Daqui,
deste paralelo,
deste fuso horário,
deste meridiano,
que nos separa,
venho dizer-te,
amigo poeta,
que te abraço com o coração,
que te entrego uma mão amiga,
porque me indicas o caminho,
que me ajuda a sobreviver ao infortúnio,
que me faz vencer as minhas intempéries,
a desafiar o próprio destino,
aprendizagem que fiz contigo,
inventando-me como tu, poeta,
enquanto arauto de minha alegria.

Beatriz Barroso


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Eu sou réplica,
Tu, ousadia,
Tu és poeta,
Eu, tua musa preferida.

Tu usas a palavra,
Eu ofereço-te o mote,
Eu faço a apologia da vida,
Para que tu escrevas poesia.

Tu és o poeta que se busca,
Eu busco o ser,
Sou a tua melhor amiga.

Meu nome?
Se tu o quiseres saber,
— É Alegria!

Beatriz Barroso


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“De poeta para poeta”

Ai que saudade,
Me invadiu agora,
Ai que tormenta me faz este silêncio!
Há quanto tempo,
Não me abraçam tuas palavras,
Há quanto tempo não se cruzam nossos planos,
Há quanto tempo não chamam pelos meus, teus olhos,
Faz tempo que não leio a tua alma e tu a minha.
Por onde vais tu poeta amigo,
Companheiro meu deste fado imenso,
A que chamamos de nossa vida?
Repletos estamos de sonhos,
Vazios estamos de mundo,
Inóspita esta paisagem humana,
Sem a tua presença, aqui, viva.
Daqui,
Deste lugar eu te saúdo,
Levo-te muito de saudade,
Para que me tragas de ti a verdade,
E a esperança de ter amanhã,
a tua companhia.

Beatriz Barroso


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Rimbaud

Escrever-te-ei esse poema prisioneiro do teu corpo
onde os olhos são a medida das coisas
e o pensamento o espaço em que finges insuficiência.

Por ti pensarei todas as palavras que os teus lábios recusaram.
Por ti anularei essa distância progressiva
onde sempre te afastas na direcção inversa do tempo.

Por ti lerei certamente a imperturbabilidade da tua escrita
quando escutando os teus dedos
são todos os poemas.

Fernando Esteves Pinto



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Ao Poeta do Amor e da Luta,
António Melenas

já não sou eu
que aqui estou

faltas cá tu
falta-me
um bocadinho
de mim
já não sou eu
que cá estou

continuarei
sim continuarei
a escrever-te
cada vez
mais baixinho
e em tom lento

que a vida
se é caminho
só mesmo
exaltada fica
quando lutamos
com o amor
que revelaste

já não sou eu
que estou
por aqui
faltas cá tu
por inteiro

Joaquim Alves



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A minha pátria

Por um pouco mais de sonho,
azul como esta tinta que uso;
por um pouco mais de vida,
darei todo o oiro que não tenho,

aquela imensa força de luta,
o meu coração e vontade.
Por um pouco mais de azul,
Lisboa pode servir de troca;

porque a minha pátria não é
a língua portuguesa.
A minha pátria não é aqui,

onde moro ou trabalho.
A minha pátria (querem saber?)
é tudo em que acredito.

Joaquim Alves



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E agora, o poema vencedor deste passatempo, gravado em áudio pelo locutor Luís Gaspar:


Se na mais profunda solidão se ouvem passos
Se na mais profunda escuridão se pressentem gestos
Se na mais profunda emoção se libertam sonhos
É porque há poetas que pairam espreitam vivem

Nos bosques nas sombras nas cidades adormecidas
Nas madrugadas mais frescas nas noites mais estreladas
Há poetas que inventam canções e melodias
As vozes que soletram canções que as árvores ondulam

Nas cidades das multidões enfurecidas
Por entre pernas esgares gritos e um imenso desespero
São poetas que com um olhar do tamanho do mundo
Procuram um sentido no emaranhado das palavras gritadas pelas ruas

São sempre os poetas os que estão nas paragens de todos os destinos
Os que estão para além de todas as correntes de todas as tempestades
São o elo invisível com o que está longe e é mistério
E esconde todos os segredos que lenta e subtilmente as palavras revelam.

J. Caldas



Mais uma vez, obrigada a todos pela participação e obrigada ao Luís Gaspar que gentilmente acedeu em gravar este poema.

1 comentário:

Texto-Al disse...

mt bons os poemas Ines:)

excelente iniciativa.


Tiago Nené