quarta-feira, 9 de abril de 2008

Na estante de culto





“E no Fim Era a Poesia”

Myriam Jubilot de Carvalho
Nova Vega Editora
2007

Myriam Jubilot de Carvalho é um dos grandes nomes da poesia portuguesa contemporânea.
Sobre o seu anterior livro “Cinco x Cinco 25 Poemas”, afirmou F. A. Pamplona que estamos perante Grande Poesia: rigorosa na sua elaboração, e acima de tudo, dadivosa de deleite estético ao leitor.
Neste "E no Fim Era a Poesia" Myriam Jubliot de Carvalho faz-nos navegar em ondas revoltas de belíssimos e fortes poemas de amor (e desamor). Ao viajarmos pelas páginas deste livro, sentimos a brisa do mar, o cheiro dos pinhais, os beijos e as dores dos amantes. Numa escrita límpida, viva, rigorosa e apaixonante.


O fogo condutor
são os teus olhos —
ó meu colar de estrelas

.............


Abri os pulsos a golpes de
machado —
junto à boca do inferno.

É inverno, meu amor.

E os círculos das
ondas em
seu esgar sal-
gado
lembram, amargos,
algum transverso ombro
materno
("Medeia,
porquê a ira pesada
na alma que te cai?").

Hoje tomei um lírio nos dentes. Lancei-me
da janela. Afinal,
há laranjas
amarelas

.............


Vai vesga e lenta a molenga da noite
estreitando o abraço brando da morte,
açoitando os ossos e entranhas da alma.

Não sei gruta nem lura onde me acoite
nem cafurna de hospício onde pernoite.
Desmoronou-se o antigo forte.

Vai morno e lento o solstício da morte

.............


Myriam Jubilot de Carvalho nasceu em Tavira em 1944 e é licenciada em Filologia Românica. Tem publicado conto, poesia, estudos e teatro para crianças e está também representada em várias colectâneas e antologias como Anuário de Poesia (1987), Conto (1992), Literatura Actual de Almada (1998), Subsídios para a História da Poesia no Algarve, séc. XI ao séc. XX (2000), Poetânea (2003), Dicionário Internacional de Arte y de Literatura Contemporanea (2007).
Foi prémio do concurso nacional de conto da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, em 1992.

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