domingo, 17 de fevereiro de 2008

Na estante de culto



poezz
Jazz na Poesia em Língua Portuguesa
Selecção: José Duarte e Ricardo António Alves
Colaboração de Artur Queiroz, Helder Leitão, Levi Condinho e Manuela Barreto Nunes
Edição: Almedina, Maio de 2004





POEsia + JaZZ = POEZZ
"Poezz" é uma antologia de poemas relacionados com o universo do jazz, elaborada por José Duarte e Ricardo António Alves.
Os poemas são de autores de língua portuguesa de várias nacionalidades numa obra editada pela Almedina em 2004.
Quase um acervo, trata-se de uma colecção de textos em que se fixou algo vindo do jazz, em 460 páginas e uma centena de autores com poemas representados.
José Duarte é um dinossáurio da Rádio, que dedicou a sua vida à divulgação do jazz em Portugal. Quem não conhece o "Cinco minutos de jazz!" ou o mais antigo e inesquecível "A menina dança?"? E neste “Poezz”, José Duarte quis mostrar de que forma as literaturas de Língua Portuguesa do século XX foram influenciadas pelo jazz.
Este livro passou despercebido do grande público e a crítica especializada ignorou-o. Não se percebe bem porquê: estão neste livro grandes poetas portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos... Inclui um poema inédito de Agostinho Neto, poemas de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, António Jacinto, Jorge de Sena, Ernesto Lara Filho, Almada Negreiros, José Craveirinha...
É, em suma, uma bela antologia, e uma aliança entre duas artes gémeas: poesia e música.


(Deve ler-se este poema depois de pôr a
tocar um disco dos anos trinta.)


E se o tecto abatesse de repente
e víssemos no céu
as nuvens, a lua e as estrelas?

Tudo sonho...

É imposível existir a lua
e aquele saxofone tocado por um preto
com dentes brancos a açucarar a música.

José Gomes Ferreira

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Letra para um solo de Charlie Parker

Como estranha ave de presa
que ferida de morte flectisse
a hipérbole do voo na agonia
prolongada, é um canto angular,
terso, mas de arestas poluídas.
Polígono torturado, perturba-o
a iminência adiada de um grito
de socorro. Em sua chama viva
perpassam secretas vozes de rebeldia,
bárbaros sons de tormenta. No clamoroso
incêndio da ira e da raiva
(é preciso saber escutar),
a urgência implorativa
de um pouco de ternura.

Rui Knopfli

1 comentário:

Anónimo disse...

Absolutamente fundamental.
Comprei-o mal saiu.
Duplamente apaixonante, porque nos permite ver os pontos de vista dos poetas sobre o jazz.
Uma vez encontrei o José Duarte no Chiado (a sair da já extinta Valentim de Carvalho) e ofereci-lhe um exemplar da "Viola Delta" (coordenada e editada pelo meu amigo Fernando Grade) dedicada à música, em que eu tinha um poema sobre jazz. Muito especificamente, dedicado ao Hot Clube, todo construído com títulos de temas clássicos de jazz.