domingo, 9 de setembro de 2007
Os vossos poemas
Desta vez, os gatos...
No passado dia 27 de Junho fiz-vos um desafio para que me enviassem os vossos poemas sobre gatos, prometendo-vos que seriam todos publicados hoje, 9 de Setembro, e que um deles seria escolhido para ser gravado em áudio pelo locutor Luís Gaspar.
O poema gravado em áudio será incluído num programa do audioblogue Estúdio Raposa de Luís Gaspar. Todos os poemas serão publicados também no blogue “queridos gatos”.
Aqui ficam então todos os poemas recebidos, para vossa apreciação, com o meu agradecimento pela colaboração e com a promessa de voltar a organizar brevemente outro “espaço aberto”:
Eu sou um Gato
Eu sou um Gato, um Senhor Gato,
Dono de minha felina vaidade,
E do meu território emprestado,
Que é a casa onde eu moro,
Com a minha querida dona,
Sempre em boa companhia.
Passo assim a apresentar-me,
Devo fazê-lo primeiro,
Para não parecer indelicado.
Mas, antes quero avisar,
Que não desperto a desgraça,
Que é um sentimento muito feio.
Matando a vossa curiosidade,
Sem intenção de alguma ironia,
Sou negro, da cor da noite,
Não faço mal a ninguém,
Pois, essa coisa de mal olhado,
É no meu entender de gato,
Um pretexto, que utiliza,
Gente, muito pouco sadia.
Tenho bigodes muito longos,
Que apenas são meu património,
Não empresto a nenhum título,
A um humano ou companheiro,
Mesmo que por caridade,
Pois ficava sem qualquer jeito.
Quanto a divinas e divas gatas,
Só em tempos que lá vão,
Pois agora já tenho idade,
E não consigo ser Don Juan.
Os olhos, esses, são verdes,
Têm a cor da uva branca,
Quando está amadurecida.
E agora que me apresentei,
Lembrem-se com carinho,
Dos gatos que como eu,
Existem no vosso Mundo,
Pois apesar de sermos gatos,
Saibam que também somos donos,
De alguma sabedoria.
Eu sou o Gato de nome Milu,
Ela é a minha Dona Bea.
Só nos resta enviar-vos,
Um grande abraço,
Daqueles que vos desejam,
Boa sorte para a vida!
Beatriz Barroso
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Sou gato.
Que terror!
Faça lá o favor,
De não ser fatalista!
Sou gato.
Gato preto, bem preto.
E vivo como um senhor,
Neste mundo,
Que a todos, nos desafia...
Sou gato.
Gosto muito de minha cor,
Quando de toda a ninhada,
Minha mãe a viu pintada,
No terceiro gato que dela nascia,
Deu-me com todo o amor,
Uma inesquecível lambidela,
Que na minha memória de gato,
Me ficou ela gravada,
Para o resto de minha vida!
Sou Gato Preto.
Assumido.
Que presunção,
É a minha!
Mas se vos intimida a cor.
Olhem-me para os olhos,
Que vos espreitam agora,
De forma tão tranquila.
São vivos,
Atentos,
Em permanente expectativa.
A cor?
O Verde da esperança,
Já viram?
Tenho a certeza que vos inspira,
Muito mais autoconfiança.
E neste instante de partilha,
Faço eu meu auto-retrato,
Que por princípio, eu não queria.
Sou gato.
Mas que mistério...
Tanto silêncio me vem desse lado,
Fale-me agora de si,
Pois eu sou como todo o gato,
Que se preza de o ser,
Muito curioso.
Venha daí agora com muita auto- estima,
Aquilo que de si também me fala,
Sua bela fisionomia!
Beatriz Barroso
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De uma ninhada
Me vi nascida.
Numa mãe gata,
Me vi transformada.
Sou agora gata idosa,
Mas muito bem conservada.
Sou gata e tenho uma dona,
Sou sua leal companheira.
Não ando pelos telhados,
Não sou gata vira-latas,
Levo uma vida prazenteira.
Sou gata que vive em casa,
Assaz bonita e arejada.
Quando quero, ainda corro,
Numa alegre brincadeira,
Com os miúdos cá da casa.
Sou gata, muito estimada,
Ainda vaidosa,
De meus felinos atributos.
E cá do meu íntimo, vos confesso
Ainda me mantenho romântica.
Gosto de ver a Lua a crescer,
Quando a noite chega sorrateira,
E eu sonho,
Sonho ser uma gata nova,
Para poder namorar...
Mas não gosto de todos os gatos,
Principalmente dos adúlteros.
Que saudade eu trago do tempo,
Em que um rom-rom eu ouvia,
Do gato por quem me perdi,
Que amiúde me fazia,
Ir de visita à janela.
Dar-lhe uma espreitadela.
Acenava-lhe eu com a cauda,
Enquanto ele da rua,
Seus enormes bigodes estendia,
Com que prometendo tudo,
Só para me ver nua.
Mas como tenho sete vidas
Dizem os mais entendidos,
Espero ainda poder viver
Muitas horas felizes,
Antes de minha partida...
Beatriz Barroso
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Ron-Rons
No regresso a casa, mais ou menos tardio,
De um dia mais ou menos sombrio,
Sou recebida sempre com muito calor,
Com muito miminho...
Por quem não se cansa de dar,
Nem sequer de esperar
Por mim.
Enterneço-me na sua companhia,
Animo-me na sua alegria,
Aconchego-me no seu carinho
E digo baixinho — obrigada por estarem sempre aqui!
Carla Mondim
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Gatos
Que graça quando se movem,
Que olhar tão puro.
Quão dócil o seu chamego,
Quando me acarinham
Mostrando-me o seu apego.
Sempre presentes,
Sempre fieis,
Sempre verdadeiros.
São os primeiros
A sentir o que me vai na alma,
E a transmitir-me a calma,
Que me amacia,
Que me adoça.
O que de mim seria,
Sem o seu miminho,
Tão quentinho,
Quando preciso de calor,
Para me afagar o coração
Suplicante, e
ávido de amor.
Que alegria,
Quando regresso a casa.
O espaço enche-se de luz,
De vida, de cor.
Sim, são os meus gatos,
Que me aliviam da dor,
Que me preenchem a alma,
Dos dias vazios,
Das noites frias,
E das vigílias, sem fim.
Ai, mas um olhar vosso,
Tão doce e sincero,
É tudo o que quero,
Para voltar a mim.
Carla Mondim
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Não há maior doçura na maldade
Que a auto-sustentada verdade
Cartesiana
Deste réptil de pêlo laranja,
Unhas retrácteis, gestos fáceis e nervos como luz.
Não há maior doçura noutros dedos,
Se forem dedos como estes:
Como facas. Como fuzis.
Com ausência de ardis
Na sua plena sinceridade de emboscada.
Desliza com augúrios de avidez
E traz no olhar, espelhada em prata,
A própria doçura da escuridão.
Desliza com a doçura da maldade
Da sua negra iniciativa
Própria de certas aparições
Que imprimem em carne viva
A marca ocre de quem brinca à morte,
Com a mais escura das seduções.
Manuel Anastácio
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E finalmente, o poema que foi escolhido para ser gravado em áudio:
Templo de Luxor
Sei agora que o gato tem espírito,
um dom poético, uma expressão
reveladora, perante o fogo
é um brilho, sobre a água
uma forma de ser que subtilmente
usa os sentidos alerta para falar
o idioma principal, esse mistério
de prevalecer na crença
da invocação egípcia, uma presença
divina entre o silêncio, a vertigem
e a intensidade que emerge do espaço
e avassala as colunas, a impressiva
modulação dos arcos, os blocos
inclinados para dentro
para que a rapidez inclua nos testículos
uma parte devoradora e outra felina,
uma parte excessiva e outra ágil
nas sete mortes
que antecedem o admirável suicídio.
Amadeu Baptista
Na voz de Luís Gaspar:
O meu agradecimento “especial” ao poeta Amadeu Baptista que teve a amabilidade de participar neste desafio.
E o meu "obrigada, pá!" ao locutor Luís Gaspar, que mais uma vez não se escusou a aderir às minhas iniciativas e brindar-nos com a sua voz inconfundível.
Até breve,
Inês Ramos
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4 comentários:
Qualquer escolha, em arte ou na literatura (poética, neste caso), sofre sempre de subjectivismo. Mas considero que a esolha deste poema, para ser bafejado pela voz cheia de sensibilidade de Luís Gaspar, foi certeira e justa.
qual deles o melhor... mas também concordo com a escolha
o poema do amadeu baptista é um poema. dizer isto é dizer tudo. *
muito bom.
adoro gatos, obrigada pela iniciativa.
bj*
Há qui poemas muito interessantes!...
Admirável esta sua iniciativa.
Não me importaria nada de ter participado. Talvez tão grande privilégio me seja consedido mais noutra oportunidade;)
Voltarei para comentar sobre a escolha do "vencedor"; creio que estará bem escolhido.
Parabéns!
Escolha entre... beijos e abraços
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