domingo, 12 de agosto de 2007

Prece

Senhor, deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo o comprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama
Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição:
Onde era sim, digo não,
Onde era não, digo sim;
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.
Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro dum inimigo...
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.

Miguel Torga
Vila Nova, 11 de Dezembro de 1934


Na voz de Luís Gaspar:

1 comentário:

Anónimo disse...

Dum médico que morreu assumindo o sofrimento... até ao fim.
lp