domingo, 24 de junho de 2007
Livro de Dick Hard (Luís Graça) no "Show do Unas"
Continuando no tema da poesia erótica/satírica, aqui vos deixo o vídeo de um dos últimos programas de Rui Unas, inteiramente dedicado ao livro de Luís Graça.
Como já aqui tinha anunciado, Luís Graça editou recentemente (juntamente com outros dois livros de contos) o livro de poesia satírico-erótica "De Boas Erecções está o Inferno Cheio - King Kong Size". Esta é uma edição de autor (que aqui assina com o pseudónimo Dick Hard), que vem no seguimento de uma edição anterior, da Polvo, de 2004.
Esta edição recente, bastante aumentada, tem quase toda a poesia erótica e satírica de Luís Graça escrita entre 1989 e 2007, e, também, uma secção de poesia lírica com 72 poemas.
Neste "Show do Unas" (obviamente devido ao público-alvo do programa), Rui Unas escolheu, talvez, os mais "obscenos". E, claro que, num programa com poucos minutos, é impossível mostrar todo o panorama genial da poesia erótica e satírica de Luís Graça. A única opção é comprar o livro.
De toda a maneira, deixo-vos com mais dois poemas (um da secção "Satírica" e outro da secção "Líricas"). Tal como Bocage, na sua época, Luís Graça sente, ainda em pleno séc. XXI, o peso da incompreensão pela sua poesia. O "poeta maldito", só talvez daqui a uns séculos venha a ocupar o lugar que merece. Talvez nessa altura os seus livros não sejam escondidos e, finalmente, algumas editoras façam "fila" para editar os seus poemas.
TOMBSTONE
Há sempre um primeiro verme para nos bicar
o caixão desceu à terra há pouco tempo
há sempre um verme feioso que é mais atrevido
cheira a verme, sabe a verme, é mesmo verme
Estamos quietos, ledos, calmos, dóceis, indefesos
deitados em silêncio, horizontais, a cal no focinho
tal como gostam os vermes atrevidos e feiosos
que avançam nas trevas para nos bicar
Afagam-nos os lábios, o nariz, as orelhinhas
lambem-nos os dedos, petiscam-nos as unhas
afiam os dentinhos e avançam decididos
p'ra mais um lauto banquete da sua vérmica existência
Pensam que tudo lhes será permitido
até saborear o nosso cérebro que gostava de praia
até mexer no nosso sexo que gostava de seios
até puxar os nossos pelos que cresciam viçosos
Só nos resta a dignidade de ser Homens
só nos resta a solução final
abrir a boca em fogo e vomitar:
"Some-te verme, aqui jaz um poeta!"
OS MEUS BEIJOS DE ONTEM
Ao cair da tarde
descobri uma manada de beijos
fora do tempo
Andavam aos saltos
como crianças
a provocar o sol
Dançavam valsas
mordiam na brisa
e contavam mentiras
Ganhei coragem
e perguntei
de coração nas mãos:
“Quem sois vós
que desafiais os deuses
com tanta alegria?”
“Não sabes?” — responderam
“Somos os beijos que não deste
no tempo certo”
O livro pode ser adquirido enviando um e-mail para o Luís Graça:
lg.vongrazen@gmail.com
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2 comentários:
Obrigado, Inês!
E pelo link... também!
Beijo.
Obrigado pelas tuas palavras, mas é preciso ter calma. A poesia nunca terá best-sellers ao nível da prosa. O "Rosa do Mundo" esgotou os 10 mil de tiragem num ápice e quando fizeram a segunda edição...já encalhou.
Quanto às "Erecções", elas são bem aceites por muita gente. Nos Bombeiros da Pontinha, uma senhora veio ter comigo e disse-me assim: "Antes de o ouvir eu pensava que não gostava de poesia". Se calhar a obscenidade pode prestar um serviço a chamar para o amor à palavra.
Se eu escrevi as "Erecções", a culpa foi dos grandes poetas portugueses que me influenciaram.Mas tenho consciência de que o meu ranking como poeta satírico é mais elevado do que o meu ranking de poeta lírico.
Voltando aos números da poesia.O Pedro Mexia é já um conceituado autor nacional e mesmo assim o "Senhor Fantasma" falhou inesperadamente a Feira do Livro ma data indicada e já devia estar nas livrarias. Vem mal ao mundo para a ASA, por causa disto?
Nenhum. O volume de vendas não é significativo, mesmo sendo um livro do Pedro Mexia.
O José Luís Peixoto também "esmaga" nos números de vendas dos seus romances, em relação à poesia.
Lá por fora, as tiragens de poesia também são pequenas.
Mas há países em que o culto da poesia está entranhado. Como a Irlanda. Ouvir um irlandês declamar é quase sempre uma experiência de arrepiar. Só na Casa Fernando Pessoa ouvi John Deane (várias vezes) e Seamus Heaney.
Há um filme interessantíssimo sobre o culto da poesia e das declamações: "Vida de cão" (no original "Ruben, Ruben", que é um cão). O protagonista é um fabuloso Tom Conti ( famoso por "Feliz Natal, Mr.Lawrence").
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