Um blues chora com lágrimas de música
na manhã fria.
O Sul branco agita
o seu chicote e fere. Entre espingardas
pedagógicas as crianças negras vão
à sua escola de medo.
Quando chegarem às aulas
Jim Crow será o professor,
filhos de Lynch serão os condiscípulos
e haverá em cada carteira
de cada criança negra
tinta de sangue, lápis de fogo.
Assim é o Sul. O seu chicote não pára.
Naquele mundo faubus,
sob aquele duro céu faubus de gangrena,
as crianças negras podem
não ir com as brancas à escola.
Ou ficar suavemente em casa.
Ou (nuca se sabe)
deixar-se ferir até à morte.
Ou não se aventurar pelas ruas.
Ou morrer entre balas e cuspo.
Ou não assobiar à passagem duma rapariga branca.
Ou, enfim, baixar os olhos yes,
dobrar o corpo yes,
ajoelhar-se yes,
naquele mundo livre yes
de que fala Foster tonto de aeroporto em aeroporto,
enquanto a bolinha branca,
uma graciosa bolinha branca,
presidencial, de golfe, como um planeta mínimo,
rola na relva pura, tersa, fina
verde, casta, terna, suave, yes.
E agora,
senhoras e senhores, meninas,
agora, meninos,
agora, velhos peludos e pelados,
agora, índios, mulatos, negros, zambos,
pensai agora o que seria
o mundo todo sul,
o mundo todo sangue e todo chicote,
o mundo todo escola de brancos para brancos,
o mundo todo Rock e todo Little,
o mundo todo ianque, todo faubus…
Pensai por um momento,
imaginai-o só por um instante.
Nicolás Guillén
Tradução de Albano Martins
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