sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Canto de Tristeza

É verdade que nos deixas num sítio de tristeza,
Tu que nos deste a vida!
Erma negrura.
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Oh, quão difícil de conhecer, de ganhar,
Tu que nos deste a vida!
É vão todo o juízo.
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Não mais poderei estar junto de Ti,
Tu que nos deste a vida!
Tudo é tão breve!
Coração nosso, quieto; coração nosso, dorme.

Os dons e a felicidade de Ti vêm,
Tu que nos deste a vida;
de Ti o que eu anseio: as flores mais luzentes,
mesmo que ao florescer aumentem a minha dor.

Josep Carner

(tradução de José Bento)

1 comentário:

Anónimo disse...

Inês
Que bom, conseguiste uma tradução, e logo de José Bento, de um poema de Josep Carner, é que não conhecia em português qualquer poema deste poeta já os vi em alemão, em italiano, em inglês, mas nunca em português e o catalão nem sempre é fácil, e, contudo, seria um poeta que li/leria com muito gosto não só porque ele é considerado um dos expoentes da poesia novecentista em Espanha, e como dizes um dos maiores nomes literários do Sec. XX, mas também (talvez até, principalmente) porque foi um lúcido observador e crítico da Ditadura de Primo de Rivera, fez uma consistente reflexão sobre a Guerra Civil de Espanha, o exílio e a condição humana (“Nabi”) e também um participante activo na tal Sociedade Europeia de Cultura, grupo de intelectuais que no âmbito da II Guerra Mundial fizeram como bandeira de liberdade o diálogo e um nascente europeísmo.