José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa no dia 7 de Dezembro de 1937.
Aos catorze anos a sua família publicou-lhe alguns poemas (que ele próprio considerava maus).
Mas Ary revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett. E em 1963 dar-se-ia a sua estreia com a publicação do livro de poemas "A Liturgia do Sangue". Em 1969 iniciou-se nas actividades políticas, integrando a campanha da CDE e filiando-se mais tarde no Partido Comunista Português, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "Canto Livre Perseguido". Foi principalmente através da sua poesia que contribuiu para a política nacional, numa altura em que a livre expressão havia sido anulada pela ditadura salazarista e em que urgia gritar pela liberdade, embora esse grito fosse, na maior parte das vezes, calado pelo regime.
Entretanto concorreu, sob pseudónimo, ao Festival da Canção da RTP com os poemas "Desfolhada" e "Tourada", obtendo os primeiros prémios. Foi, aliás, através da música que o poeta se tornou mais conhecido entre o grande público. O poema "Desfolhada", cantado por Simone de Oliveira, com música de Nuno Nazareth Fernandes, ganhou em 1969 o primeiro lugar do Concurso da Canção RTP. Também em 1972 o primeiro lugar pertenceu a Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes com "Menina", interpretado por Tonicha. No ano seguinte a vitória seria novamente de Ary dos Santos, desta vez em parceria com Fernando Tordo, com "Tourada" (uma rasteira à censura), interpretado por Fernando Tordo. Além destes êxitos, também o poema "Meu Amor, Meu Amor", escrito em 1968, com música de Alain Oulman e interpretação de Amália Rodrigues, obteve em 1971 o Grande Prémio da Canção Discográfica.
Autor de mais de seiscentos poemas para canções para os mais variados artistas entre os quais Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Fernando Tordo, José Afonso, Paulo de Carvalho e Simone de Oliveira, entre muitos outros, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo "O Sermão de Santo António aos Peixes" do Padre António Vieira. À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado "As Palavras das Cantigas", onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado "Estrada da Luz Rua da Saudade", que pretendia que fosse uma autobiografia romanceada.
Ary dos Santos faleceu em 1984. Nesse ano, logo após a sua morte, foi lançada a obra "VIII Sonetos de Ary dos Santos" de Manuel Gusmão no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro.
Ary dos Santos, para além de ter sido um grande criativo publicitário e um grande declamador, foi um dos mais talentosos poetas da sua geração, conhecido pela sua linguagem irreverente e ágil e que muito contribuiu para a viragem da música popular portuguesa. Como ele próprio dizia, a poesia era a maneira que ele tinha de falar com o povo porque ser poeta é escolher as palavras que o povo merece.
Recordamos com saudade:
“(...) Serei tudo o que disserem
Por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
Falso médico ladrão
Prostituta proxeneta
Espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!”
1953 "Asas";
1963 "A Liturgia do Sangue";
1964 "Tempo da Lenda das Amendoeiras";
1965 "Adereços, Endereços";
1968 "Insofrimento In Sofrimento";
1970 "Fotos-Grafias"; "Ary por Si Próprio";
1973 "Resumo";
1974 "Poesia Política";
1975 "Llanto para Afonso Sastre y Todos"; "As Portas que Abril Abriu";
1977 "Bandeira Comunista";
1979 "Ary por Ary"; "O Sangue das Palavras";
1980 "Ary 80";
1983 "Vinte Anos de Poesia";
1984 "As Palavras das Cantigas"; "Estrada da Luz Rua da Saudade"
Teatro:
"Azul Existe" (1964);
"Os Macacões" (em colaboração com Augusto Sobral);
"O Caso da Mãozinha Misteriosa" (em colaboração com Augusto Sobral).
2 comentários:
Inês da Minha Alma.
Agradeço-te a homenagem a este meu amigo.
Tantas vezes o vi escrver as palavras das cantigas.
Beijos.
Luís Pinto
Boa tarde. Não consigo encontrar disponível nos livros publicados sobre ZCAS nem na net o texto do poema dramático escrito para teatro AZUL EXISTE. Será que me poderá fornecer um link ou dar uma indicação ou terei de me remeter para a BNL para Lisboa? Mto obg, manuel cardoso
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