segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Sophia de Mello Breyner e Andresen

Sophia de Mello Breyner e Andresen nasceu no dia 6 de Novembro de 1919, no Porto.
Aos 3 anos teve o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recitou “A Nau Catrineta”, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero de Quental. A sua infância e adolescência passaram-se entre o Porto e Lisboa, onde frequentou o curso de Filologia Clássica.
Aos doze anos escreveu os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 teve uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética.
Em 1944 publicou o primeiro livro, "Poesia", uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo: Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro, uma escolha que integrava alguns poemas escritos com 14 anos foi o início de um fulgurante percurso poético. E não só: Sophia publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare.
Sophia de Mello Breyner foi um caso ímpar na poesia portuguesa, não só pela difusa sedução dos temas ou pelos rigores de expressão, mas sobretudo por uma rara exigência de essencialidade. A voz de Sophia erguia-se com uma pureza inusitada, completamente isenta de biografismo, de expressão retórica, de teatralidade, de pitoresco e de toda aquela imediatez interjectiva, tão frequente na poesia feminina.
A obra de Sophia de Mello Breyner é dominada por um tom poético, feito da interiorização do mundo exterior pela subjectividade lírica, da redundância de certos temas, da imaginação criadora, da transfiguração do real, dum ritmo, de acentos e sonoridades muito característicos, e sobretudo da linguagem mágica própria do canto de Orfeu, mito que domina a sua obra.
Há poucos itinerários poéticos em língua portuguesa tão impregnados de positividade original como o de Sophia.
Nas últimas obras de Sophia, a presença de Pessoa surgiu também com uma insistência enigmática, como se Sophia sentisse a necessidade de integrar a sua sombra imersa ou a plenitude inversa que ela instalou na consciência poética contemporânea no seu mundo. É no Livro Sexto que Sophia esboça o primeiro retrato diálogo com Pessoa, sem que a sua escrita deva a sua música e a sua forma ao invocado "deus de quatro rostos". Mas o grande aprofundamento surge com Dual, que em si podia ser já uma homenagem ao "dividido", e é em Dual que Pessoa como Ricardo Reis é assumido e comungado pela visão de Sophia. Jamais se revisitou, por dentro, a aventura sem fim de Fernando Pessoa, poesia e vida confundidas, como no admirável poema Cíclades.
Foi a experiência da angústia política e social de Portugal, e do mundo ocidental do pós guerra, que a levaram a procurar uma linguagem directa e despojada para exprimir uma gama de múltiplos temas do quotidiano, no rasto da estética neo-realista.
Sophia rejeitava a fatalidade, a submissão aos desastres, e acreditava na força combativa da verdade que deve pertencer à "íntima estrutura do poema".
Defendia também a intervenção da poesia, do poeta e do artista, na "formação de uma consciência comum", desde que se mantivesse a procura de "rigor, de verdade e de consciência".
Tendo sido também deputada pelo partido Socialista à Assembleia Constituinte, a sua actividade político partidária não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril pertenceu mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos.
Faleceu em 2 de Julho de 2004.
As obras de Sophia de Mello Breyner Andresen encontram-se traduzidas nos seguintes países: Argentina, Brasil, Dinamarca, Espanha (Castelhano e Catalão), França, Hong-Kong, Itália, Noruega, Reino Unido, Rússia, Sérvia e Tailândia.


Obras e prémios:
Poesia, 1944 ; 1975
Dia do Mar (Poesia), 1947 ; 1974
Coral, 1950 ; 2003
No tempo dividido, 1954 ; 2003
O Rapaz de Bronze (literatura infantil), 1956 ; 1996
A Fada Oriana (literatura infantil), 1958 ; 2002
A Menina do Mar (literatura infantil), 1958 ; 2002
Cidade Nova (ensaio sobre Cecília Meireles), 1958
Mar novo, 1958 ; 2003
Noite de Natal (literatura infantil), 1960 ; 2002
Poesia e Realidade, 1960
O Cristo cigano ou a lenda do Cristo cachorro, 1961 ; 2003
Contos Exemplares (Contos), 1962 ; 2002
Livro Sexto (Poesia), 1962 ; 2003 (distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964)
O Cavaleiro da Dinamarca (literatura infantil), 1964 ; 2001
Os três reis do Oriente, 1965 ; 1980
Geografia, 1967 ; 2004
A Floresta (literatura infantil), 1968 ; 2003
Antologia (Poesia), 1968 ; 1985 (esta 5ª edição de 1985 foi prefaciada por Eduardo Lourenço)
Grades, 1970
11 Poemas, 1971
Dual, 1972 ; 2004
O Nu na Antiguidade Clássica, 1975 (integrado em "O Nu e a Arte"); 1992
O Nome das Coisas (Poesia), 1977 ; 2004 (distinguido com o prémio Teixeira de Pascoaes)
O Tesouro (literatura infantil), 1978
Quatre poetes portugais: Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, selecção, tradução e apresentação de Sophia de Mello Breyner Andresen (Antologia Poética), 1979
A Casa do Mar (Contos), 1980
Poemas escolhidos, 1981
Navegações (Poesia), 1983 ; 2004 (distinguido com o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários em 1983, pelo conjunto da sua obra)
Histórias da Terra e do Mar (Contos), 1984 ; 2002
Árvore (Poesia infantil), 1985 ; 2002
Ilhas, 1989 ; 2004 (distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Grande Prémio de Poesia Inasset/INAPA (1990))
Obra Poética I, 1990 ; 2001 (reuniu toda a sua obra em três volumes, "Obra Poética", e foi distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube)
Primeiro Livro de Poesia (Infanto-juvenil), 1991 ; 2003
Obra poética III, 1991 ; 2001
Obra Poética II, 1991
Em 1992 foi distinguida com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças (pelo conjunto da sua obra)
Musa, 1994 ; 2004
Recebeu em 1994 o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
Signo, escolha de poemas, 1994 (um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra)
Em 1995 foi agraciada com a Placa de Honra do Prémio Petrarca, em Itália
Em 1996 foi homenageada no Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia
Era uma vez uma Praia Atlântica, 1997
O Búzio de Cós e outros poemas (Poesia), 1997 ; 2004 (distinguido com o Prémio da Fundação Luís Miguel Nava em 1998)
Em 1999 foi agraciada com o Prémio Camões (pelo conjunto da sua obra)
O Bojador, 2000
Em 2000 foi agraciada com o Prémio Rosalía de Castro, do Pen Club Galego
O colar (Teatro), 2001 ; 2005
Em 2001 foi agraciada com o Prémio Max Jacob Étranger
Orpheu e Eurydice, 2001
Mar (Poesia), 2001 ; 2004
O anjo de Timor (Infanto-juvenil), 2003
Em 2003 foi agraciada com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana

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