Quando o teu ser me enlevava em comoções
E eu em ti me extasiava no infinito,
Não viveu esse dia tanto ser aflito,
E os oprimidos, num inferno de milhões?
Quando o teu andar me punha em febril estado,
Outros trabalhavam; na Terra eram ruídos.
E havia o vazio, Homens sem Deus, despidos,
Nascia e morria tanto ser desgraçado.
Quando, prenhe de ti, me evolava em essência,
Havia tantos outros arfando em pedreiras,
Minguando à secretária, suando em caldeiras.
Vós, que arquejais em ruas e nos rios da vida,
Se há equilíbrio no mundo e na existência,
Como irá esta minha culpa ser remida?
Franz Werfel
1913
(tradução de João Barrento)
Franz Werfel, um dos vultos do expressionismo, nasceu em 10 de Setembro de 1890 em Praga, onde frequentou o liceu. E é da sua época no liceu que datam as suas primeiras tentativas poéticas. Estudou também em Hamburgo.
Em 1912 foi para Leipzig, onde se associou à editora de Kurt Wolff. Aí conheceu Walter Hasenclever e Kurt Pinthus. Os três formaram o pólo de concentração dos poetas da geração expressionista. Entre 1915 e 1917, Franz esteve na frente de batalha. Casou em Viena com Alma Mahler e viveu em Breitenstein e Veneza. Depois, viajou pelo Próximo Oriente.
Em 1921 recebeu o Prémio Schiller e em 1925 o Prémio Grillparser. Em 1924 publicou o romance “Verdi”, que deu início ao ciclo dos grandes romances pós-expressionistas.
Quando a Áustria caiu nas mãos do exército alemão, os Werfels deixaram Viena e fugiram para França. Em 1940 o casal fugiu pelos Pirinéus em direcção a Espanha. Queriam deixar a Europa e ir para os Estados Unidos, conseguindo-o finalmente a bordo do Nea Hellas, o último barco que partia de Lisboa.
Nos últimos anos da sua vida, Franz Werfel viveu em Beverly Hills / Hollywood, onde morreu em 1945, com 55 anos, depois de dois ataques cardíacos.
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