sábado, 12 de agosto de 2006

Na estante de culto







"A voz secreta das mulheres afegãs

– O suicídio e o canto
"

Sayd Bahodine Majrouh, poeta e profundo conhecedor da poesia do seu país (o Afeganistão) recolheu estes cantos e conseguiu enviá-los para o ocidente antes de ser assassinado no Paquistão, seu país de exílio.


Ana Hatherly, poeta, romancista, artista plástica, ensaísta, tradutora e amante das culturas orientais, traduziu a partir da edição francesa, para versões poéticas.


Até agora desconhecidos do mundo, os “landays” das mulheres afegãs (aparentemente gritos sem sentido), escondem afinal uma linguagem secreta feminina que serve para expressar discursos de ódio, amor, erotismo ou escárnio.
São vozes secretas proferidas à revelia e dirigidas aos homens e à cultura masculina dominante.

O landay é um pequeníssimo poema, normalmente de dois versos livres de nove e treze sílabas, sem rimas obrigatórias.
Há-os de todos os tipos, dependendo da origem social ou cultural dos seus autores, mas os mais intensos e inesperados são os landay que revelam a condição feminina.
Em «A voz secreta das mulheres afegãs – o suicídio e o canto» são justamente esses poemas ousados, curtíssimos e brutais que permitem traçar um retrato da mulher afegã, subjugada pelo poder masculino e por uma vida de escrava, só podendo expressar a revolta de duas formas: suicidando-se ou gritando canções de um amor louco ou impossível.



Ontem à noite estive com o meu amante:

uma noite de amor que não se repetirá

Como um guizo, com todas as minhas jóias,

tini em seus braços até ao fundo da noite


Dá-me a tua mão, amor, vamos para os campos

Para nos amarmos ou cairmos juntos apunhalados.


Amanhã os famintos do meu amor serão satisfeitos
Porque quero atravessar a aldeia com o rosto

descoberto e os cabelos ao vento.



Nestes versos de revolta, o que mais sobressai é a força e a crueza das palavras.
E ao mesmo tempo uma extrema beleza.

Recomendo. Vivamente.


Editora: Cavalo de Ferro

(2005)

5 comentários:

Logos disse...

quando o perigo ronda, tudo é possível.

Anónimo disse...

Inês: tens aqui um blog bem jovenzinho mas com muita qualidade. Já o vi na sua totalidade e gostei bastante. A Poesia sai, de facto, engrandecida. Vou colocá-lo nos meus "Favoritos" e voltarei cá bastantes mais vezes. Parabéns pelo projecto!

Quanto à obra que apresentas: muito boa divulgação para algo que vale realmente a pena ter e ler.

Beijinho :)

Anónimo disse...

Este post deu-me vontade de (re)pegar no livro. Coisas ;)

Memória transparente disse...

Irei seguir a recomendação de leitura.

Anónimo disse...

Luis Pinto said...

Estavas, linda Inês, posta em sossego.