sexta-feira, 28 de julho de 2006

Natália Correia

















"Natália Correia - A Defesa do Poeta"

Um CD da EMI-Valentim de Carvalho, com 31 poemas gravados entre 1969 e 1972.

Direcção de Edição: Helena Roseta com o apoio de David Ferreira.
Produção Executiva: Maria João Fortes, Helena Mata, Helena Evangelista, João Ruas e Aldina Duarte.
Masterização: Rui Dias (nos Estúdios Tcha Tcha Tcha)
Design da capa: Metropolis Design e Comunicação
Fotografias do espólio de Natália Correia, pertencente ao Governo Regional dos Açores (depositadas na Biblioteca Nacional)


Palavras de Maria Lúcia Lepecki no folheto incluso:
"(...) Natália Correia diz poesia como quem brinca, como quem ama, como quem escuta e como quem ecoa. (...) Declamar poesia é para muitos. Dizer poesia é para os poucos que nos fazem felizes: aquelas e aqueles em quem as deusas puseram, in illo tempore as suas complacências"



"A Defesa do Poeta"

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.

Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

Natália Correia


Na voz de Natália Correia:

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