sábado, 29 de julho de 2006

Alexandre O'Neill

Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, nasceu em Lisboa em 1924.
Em 1948, juntamente com Mário Cesariny, António Pedro, Vespeiro e José-Augusto França, lançou-se na aventura do surrealismo. Este movimento, fruto da sua época, surgia como provocação ao regime político vigente, e à poesia neo-realista.
Em 1950 O'Neill abandonou o Movimento Surrealista, expressando desta forma o seu desagrado pelo rumo simulado e decadente em que o surrealismo mergulhara. O'Neill nunca foi de regimentos, e o surrealismo tinha algo de disciplina ideológica. Contudo, a sua poesia conservou traços surrealistas.
Colaborou ainda com "Os Dissidentes" numa exposição.
O'Neill, à semelhança de muitos artistas portugueses não pôde viver da sua arte. Afirmava "viver de versos e sobreviver da publicidade".
A publicidade foi então o meio que O'Neill encontrou para ganhar o sustento. Esta é uma área que requer destreza e à vontade com as palavras, e nesse campo O'Neill sentia-se como peixe na água. Criou algumas frases publcitárias que ficaram na memória, como "Boch é Bom" e esse outro slogan, que é já provérbio, "Há mar e mar, há ir e voltar".
A publicidade deu-lhe o conforto económico de que necessitava, mas sempre que se enfastiava mudava de agência publicitária.
Vasto foi o seu currículo, onde constam diversas colaborações para jornais, revistas e televisão.
Fez da pátria o seu tema mais constante, e do verso crítico o lápis com que escreveu paisagens, gestos e costumes quotidianos.
Transbordante de sonhos, sedento de realidades submersas, foi em vida, e é em morte, incompreendido e votado ao esquecimento.
Esse foi o preço que pagou por se ter negado a uma poesia de populismo fácil.
Faleceu em 1986.

Bibliografia:
"A Ampola Miraculosa", Cadernos Surrealistas, 1948
"Tempo de Fantasmas", Cadernos de Poesia, Lisboa, 1951
"No Reino da Dinamarca", Guimarães, Lisboa, 1958
"Abandono Vigiado", Guimarães, Lisboa,1960
"Poemas com Endereço", Morais, Lisboa, 1962
"Feira Cabisbaixa", Ulisseia, Lisboa, 1965
"Portogallo mio rimorso", Einaudi, Torino, 1966
"De Ombro na Ombreira", Dom Quixote, Lisboa, 1969
"As Andorinhas não têm Restaurante", Dom Quixote, Lisboa, 1970
"Jovens, Nova Fronteira", Futura, Lisboa, 1971
"Entre a Cortina e a Vidraça", Estúdios Cor, Lisboa, 1972
"A Saca de Orelhas", Sá da Costa, Lisboa, 1979
"As Horas já de Números Vestidas", 1981
"Dezanove Poemas", 1983
"Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, Lisboa, 1985

4 comentários:

Anónimo disse...

Querida Inês:
Nesta tenho de discordar de ti. O O'Neill já tem lugar cativo no Olimpo dos poetas. E não está esquecido.
O O'Neill não era dos que se pudessem chutar para canto.

fernando disse...

A Biblioteca de Constância tem o seu nome e a sua biblioteca, um espólio que ainda não foi "tratado" e que pode se consultado por qualquer um de nós.

Será portanto possível depararmo-nos com um original, uma folha solta esquecida, no meio das páginas de um qualquer livro.

É aliciante não?

António Melenas disse...

Também neste caso não me parece que o O'Neill seja, de forma alguma um poeta esquecido. Acontece com todos os artistas. Depois das loas nos dias que se seguem ao seu desaparecimento há sempre uns anitos de maior ou menor silêncio à sua volta. É como oa campos agrícolas que ficam uns anos em "pousio". Passado esse período há uns que renascem e outros não. O'Neiil é, com certeza, dos que vão renascer. Mas esquecido, ele não está

Anónimo disse...

Caro(a) Neptumância:

Não é só aliciante, é imperativo, caso passemos por Constância.
Desconhecia o facto e felicito a biblioteca.