segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entre margens de Regina Gouveia

Entre margens
Regina Gouveia
Editora Lua de Marfim, 2013

Em 2012, Regina Gouveia foi contemplada com o 1º prémio no XVII concurso Poesia em ti, promovido pela APPACDM de Setúbal.
Os poemas a concurso tinham que abordar temas relacionados com a problemática da deficiência mental. Do prémio fazia parte a edição, pela Editora Lua de Marfim, de um livro de poesia. Assim surge este livro Entre margens.

Entre margens, os rios, entre margens os textos nas páginas. Uns e outros galgam-nas por vezes. Os textos desta colectânea, agora entre margens, já as galgaram ao longo das suas vidas, por vezes com alguns anos. Aqui se incluem não só textos actuais mas também outros que não foram incluídos nos livros anteriormente publicados. Todos foram sendo organizados em projectos, entre eles Poemas no espaço-tempo e Entre margens. O primeiro chegou a ter edição agendada pela editora Campo das Letras, que infelizmente já não existe. Em 2007 foi prefaciado pelo escritor Carlos Vaz, mas de então para cá foi engrossado com mais poemas, nomeadamente o que foi premiado no concurso de poesia que deu lugar à edição desta obra, um conjunto de poemas seleccionados a partir dos projectos acima mencionados.

No dia 27 de Junho será apresentado no Centro Rómulo de Carvalho em Coimbra, pelas 18H15.


10. Sonho

Decidi ir agarrar um sonho,
um sonho distante e desmedido.
Imaginei partir com companhia.
Talvez o meu gato (eu tenho um gato,
o que não acontecia a Gedeão) mas logo pensei: Não.
Quando visse o sonho a esvoaçar
havia de cuidar que era uma ave.
Gatos e aves nunca se deram bem
à exceção do gato malhado
e da andorinha Sinhá de Jorge Amado.
Pensei então levar alguém, mas quem?
Os nossos sonhos
raramente coincidem com os sonhos de outrem.
Parti sem mais ninguém.  Fui de balão.
Não o enchi com hidrogénio, com hélio,
nem ar quente.
Enchi-o simplesmente de ilusão
e assim me aventurei.
Aproveitei as correntes ascendentes,
ao sabor do vento rodopiei no ar,
tempestades e tormentas tive que enfrentar
mas continuei, por vezes sem sentido,
em busca do sonho distante, desmedido.
Quanto mais subia, mais distante o sonho parecia,
até me aperceber que não subia
e que, vertiginosamente, descia em direção ao chão.
Talvez tivesse havido uma fuga de ilusão.
Pensei em frei Gusmão, em Charles, em Zeppelin
e assim tentei uma outra vez,
outra, e ainda mais uma.
Tudo se repetiu como da vez primeira.
Quero ainda tentar mais uma vez, a derradeira.
Mas como hei de eu encher o meu balão
se é já tão pouca a ilusão, quase nenhuma?

Sem comentários: