sábado, 30 de dezembro de 2006

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

Na voz de Luís Gaspar:

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito a propósito da época. Como se alguma coisa mudasse com as doze badaladas!
Em cada dia começa um novo ano. Mas também não vale a pena matar todas as doces ilusões que fazem da vida um tempo mais suportável.
Parabéns pelo blog e pela divulgação da poesia. Não é pelo sonho que vamos?

disse...

Obrigada e Feliz 2007 para si e para a poesia.
Um abraço d Porto

Anónimo disse...

Só queria perguntar se é a Inês que está na UBI estes dias... é?
Se é, um bem haja para si, gosto muito do seu trabalho... te um nova fã!