domingo, 23 de julho de 2006

Na estante de culto




Um antologia de poesia azteca, traduzida por José Agostinho Baptista.

Poetas dos séculos XIV e XV da região azteca.
Um viagem pelo passado, pela beleza, pelas cores, pelos cheiros da terra. Lemos os poemas e ouvimo-los em cântigos. Poemas que encantam. Poemas que perturbam. Poemas que nos são dados como oferendas de flores. Para apreciadores de coisas boas.

Editora: Assírio & Alvim
(Colecção documenta poetica / 105)


"As flores e os cantos"

Do interior do céu vêm
as belas flores, os belos cantos.
Desfeia-os a nossa ansiedade,
a nossa invenção deita-os a perder,
a não ser os do príncipe chichimeca Tecayehuatzin.
Com os seus, alegrai-vos!

A amizade é chuva de flores preciosas.
Brancos tufos de plumas de garça,
entrelaçam-se com preciosas flores vermelhas:
nos ramos das árvores,
debaixo delas andam e libam
os senhores e os nobres.

Vosso belo canto:
um dourado pássaro cascavel,
muito formoso o elevais.
Estais numa cerca de flores.
Sobre os ramos floridos cantais.
Acaso serás tu uma ave preciosa do Dador da vida?
Acaso falaste com o deus?
Tão depressa como vistes a aurora,
os pusestes a cantar.

Que se esforce o meu coração, que queira,
as flores do escudo,
as flores do Dador da vida.
Que poderá fazer o meu coração?
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.
Só assim hei-de ir-me
como as flores que morrerão?
Nada restará do meu nome?
Nada da minha fama aqui na terra?
Ao menos flores, ao menos cantos!
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.

Gozemos, oh amigos,
que haja abraços aqui.
Agora andamos sobre a terra florida.
Ninguém aqui acabará
com as flores e os cantos,
eles perduram na casa do Dador da vida.

Aqui na terra é a região do momento fugaz.
Também é assim no lugar
onde de alguma maneira se vive?
Aí nos alegramos?
Aí existe amizade?
Ou apenas aqui na terra
viemos conhecer os nossos rostos?

Poema de
Ayocuan Cuetzpaltzin
(segunda metade do século XV - princípios do século XVI)

1 comentário:

Anónimo disse...

Falhei o abraço ao José Agostinho Baptista, por ocasião da entrega do prémio APE.
Não foi por mal. Não coloquei logo na minha agenda e esqueci-me. Fui para a hidroginástica.
Ele é verdadeiramente fascinado pelo México.
Bom poeta, bom tradutor e bom conversador.
No balcão do bar "Tertúlia" (R. Diário de Notícias, Bairro Alto) foi sempre agradável trocar ideias com ele.