domingo, 21 de setembro de 2014

«Ouro e Vinho» de Adão Contreiras

Acaba de sair, pela editora 4Águas (Colecção Blokos/Poesia), um novo livro de poesia do artista plástico e poeta algarvio Adão Contreiras.


ouro

longe de mim na apressada noite verde
o que pode haver de eterno
no esquecimento dos teus lábios?

uma sonda de vinho aperfeiçoa
a investigação dos astros
- não há nada aberto para além da morte

e tu conversando com o orgulho
da língua de mármore
desfeitos os nós
ao abrigo dos costumes, em letras de aço
presas aos dentes dizes que a Terra é redonda!

Que ingénua luz aos olhos da tristeza
Menina voz adoçando na noite ecos da garganta
- trilho contigo um caminho incerto
Pequeno círculo dos teus lábios
Feridos pelas agulhas do fado

não há futuro
sem a língua roçando os teus cabelos
Ainda que haja madrugadas
cheirando a metal, só tu
Incesto da terra com o vento poderás
construir músculos embriagados a ouro e pão

Adão Contreiras

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