segunda-feira, 26 de maio de 2014

«Lettera Amorosa, Iluminações e Sombras» de Joana Lapa na Casa Fernando Pessoa


O livro de poesia «Lettera Amorosa, Iluminações e Sombras» de Joana Lapa (pseudónimo de Maria João Fernandes) publicado na Coleção “Obscuro Domínio”, Edições Afrontamento, será apresentado na Casa Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha, 16, a Campo de Ourique, Lisboa), a 26 de Maio (segunda-feira) pelas 18H30, por Eduardo Lourenço, Fátima Freitas Morna (Faculdade de Letras de Lisboa) e por Maria João Fernandes. O compositor Cândido Lima fará ao piano um improviso sobre os poemas que serão ditos pelo poeta Gonçalo Salvado, por Inês Ramos e pela autora. 

Lettera Amorosa Iluminações e Sombras ilustrado com desenhos da autora (o livro inclui ainda um retrato seu por João Vieira e dois desenhos de Gonçalo Salvado) é prefaciado por Robert Bréchon e por Maria João Fernandes

O livro retoma e prolonga a grande tradição da literatura e da carta de amor em Portugal representada por grandes expoentes como Mariana Alcoforado evocada logo no início ou Florbela Espanca. Todo um filão da poesia europeia de amor, percorre em surdina as suas páginas, de Petrarca (1304-1374) qui inspirou o compositor italiano Claudio Monteverdi (1567-1643), a Pedro Salinas (1891-1951), Jorge Guillén (1893-1984) ou André Breton (1896-1966), para realçar o estilo único, luminoso nas suas fulgurantes metáforas, musicais, da autora.

Lettera Amorosa mereceu ao grande poeta e crítico francês, tradutor de Pessoa e o seu maior divulgador a nível mundial, as seguintes palavras: Joana Lapa é herdeira das grandes poetisas do amor, cujos versos cantam na nossa memória: Louise Labé, Marceline Valmore, Elisabeth Browning, Emily Dickinson, Anna Akhmatova, Marina Tsvetaieva. Faz parte do seu bando alado. Mas renova a sua mensagem. Ela é portuguesa, nossa contemporânea, e especialista, profissionalmente, de artes plásticas, de pintura, portanto de imagens. Portuguesa, não pode deixar de lembrar-se de imediato, da freira de Beja, Mariana Alcoforado, autora das mais belas cartas de amor jamais escritas. Ela é sua descendente, espiritualmente. A confissão deste parentesco não aparece senão no fim da Lettera Amorosa, mas desde o início sentimo-lo presente, no longínquo passado, neste livro de que um dos temas é a presença na ausência e a ausência na presença. (…) Mariana vive em Joana Lapa, como revivem nela, para mim, seu leitor cosmopolita, Louise, Marceline, Elisabeth, Emily e Marina. O que elas têm em comum, é a união do amor e da poesia.

O desdobramento de Maria João em Joana Lapa faz irresistivelmente pensar em Pessoa. Joana Lapa não é o heterónimo de Maria João Fernandes, como Alberto Caeiro era o de Fernando Pessoa? A poetisa da Lettera Amorosa que, nas suas epígrafes, a abrir os poemas, invoca frequentemente outros poetas, de Michaux a Fiama Pais Brandão, a um poeta irlandês desconhecido, ou a duas poetisas japonesas, não cita Pessoa. Eu sinto-o contudo, eu que a conheço, quase em cada página. Não é contudo a heteronímia o que me parece dar a toda esta poesia uma tonalidade pessoana, é a sua extrema intelectualidade. A poesia é para Joana Lapa, como o era para Leonardo, cosa mentale.” (…) Levada pelos ímpetos do coração, refugiou-se contudo num lugar quase totalmente abstrato, no ponto mais extremo da consciência de si. É daí que nos fala, como que a frio, com uma voz que atravessou imensidades de sofrimento e de desespero, mas também o prazer e o êxtase, para atingir uma espécie de paz das profundidades. (…)”

Maria João Fernandes assume uma visão crítica no prefácio: Em Lettera Amorosa “a “pátria da presença” que cintila e ondula, até habitar o poema é “tesouro da consciência chegando” com um novo sentimento amoroso “da compatibilidade e da doçura”. Essa compatibilidade sonhada não é apenas a do Amor no seu sentido mais evidente, sentimento que une dois seres que se completam, mas a compatibilidade entre duas metades da alma, a feminina, “anima” e a masculina, “animus”, metades da vida separada do divino para o qual tende e que é a sua sede e o seu alvo. (…)”
Joana Lapa (pseudónimo de Maria João Fernandes) publicou os seus primeiros poemas em jornais e revistas como Sema, Silex e Nordés, dirigida pela poetisa espanhola (Galiza) Luz Pozo Garza, em 1993 o álbum de fotografias, juntando a poesia e a crítica de arte: Cristóvam Dias Os Caminhos do Olhar e em 2003 o livro de poesia em versão bilingue (português/francês) Dias de Seda/ Jours de Soie, com catorze originais de Júlio Resende e prefácios de Robert Bréchon e de Eugénio Lisboa. A obra de António Ramos Rosa é uma referência fundamental da sua poesia, bem como o diálogo com a arte que desenvolve há mais de duas décadas. No seu percurso, pensamento racional e intuição, discurso crítico e expressão poética alimentam-se mutuamente e associam-se a aspetos diversos da sua personalidade e da sua criação. Maria João Fernandes como assistente universitária, em Lisboa e em Paris, dedicou-se ao estudo da antropologia do imaginário e do Mito que fundamentam a sua crítica de arte. Formular o informulável era afinal já o seu destino como Joana Lapa, poeta e artista depois de uma fugaz frequência da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Prepara a publicação do livro de poesia prefaciado por Robert Bréchon e ilustrado com fotografias de Manuel Magalhães: Deusa da Transparência. Por publicar, no conjunto de uma vasta obra ainda inédita, está o conjunto dos seus poemas de juventude. Encontram-se no prelo os livros, que organizou e onde colaborou como poeta: A Chama Eterna, O Cântico dos Cânticos na Poesia de Amor e na Cultura de Língua Portuguesa, em co-autoria com o poeta Gonçalo Salvado e Em Busca do Amor Perdido O Bilhete Postal e a Poesia entre 1900 e 1920.

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