sábado, 30 de janeiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


poezz
Jazz na Poesia em Língua Portuguesa
Selecção: José Duarte e Ricardo António Alves
Almedina, 2004






Letra para um solo de Charlie Parker

Como estranha ave de presa
que ferida de morte flectisse
a hipérbole do voo na agonia
prolongada, é um canto angular,
terso, mas de arestas poluídas.
Polígono torturado, perturba-o
a iminência adiada de um grito
de socorro. Em sua chama viva
perpassam secretas vozes de rebeldia,
bárbaros sons de tormenta. No clamoroso
incêndio da ira e da raiva
(é preciso saber escutar),
a urgência implorativa
de um pouco de ternura.

Rui Knopfli

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