segunda-feira, 17 de setembro de 2007

UM CACHO COM SABOR DE MEL

Patético, Rui!
Despediste-te à francesa
sem dizer nada aos amigos

E já lá estás
à sombra, a sorrir
como quem pede desculpa

Andarás à procura do outro
do outro Rui, teu grande amigo
o Belo, das palavras imponentes

Tenho-te perto de um falo de bronze
nos jardins da Fundação Gulbenkian
mais o Zé Correia, o Julião e o Grade

Nessa foto, todos os poetas brilham
e tu, grande escritor, tímido
a dizeres que eu é que sim

Tu é que sim, como Homem
poeta e dono desse sorriso tão puro
que tem garrafa privada no meu coração

Luís Graça

In memoriam.


Rui Cacho era membro da Tertúlia de Poetas Rio de Prata, que se reúne semanalmente, às quintas-feiras, no restaurante que agora se chama Gran Caffé. Foi uma tertúlia fundada pelos poetas Ulisses Duarte e António Manuel Couto Viana nos primórdios dos anos 90. Rui Cacho sempre se associou aos livros da tertúlia com as suas prosas finíssimas, o seu sentido de humor terno e humilde, a sua personalidade dadivosa e extremamente social. Era um homem bom e um grande escritor. E as minhas lágrimas são sempre bem gastas em homens como ele.

Grande contista, cronista e homem atento a tudo o que o rodeava. Rui Cacho foi um dos dois elementos da Tertúlia Rio de Prata contemplado com bolsas de criação literária, curiosamente no mesmo ano. O outro foi o meu grande amigo e excelente poeta Avelino de Sousa.

Ouvir Rui Cacho falar da sua amizade com Ruy Belo era uma delícia, pelas lições de fraternidade, vida e poesia que encerrava.

Era um homem alto, extremamente magro, moreno, de óculos com lentes grossas, voz grave e amigável, um sorriso que desarmava qualquer um. Se todos os homens fossem como ele, não havia guerras.

À família e amigos, o meu grande abraço. Dizer que nunca te esquecerei é apenas uma banalidade que te mereceria uma resposta do estilo: "Oh! pá, podes esquecer-me à vontade. Não fiz nada para ser lembrado".

O corpo de Rui Cacho pode ser velado a partir de hoje à tarde, segunda-feira, 17 de Setembro, na Igreja do Monte Abraão (Massamá).
Presume-se que o funeral seja realizado amanhã de manhã.

Luís Graça, 17 de Setembro de 2007

1 comentário:

Fátima Campos disse...

Exmo. Senhor
Luís Graça

Subscrevo o texto que escreveu sobre o grande Senhor que foi Rui Cacho, de quem eu tive a honra de ser amiga.
Gostaria de fazer uma pequena correcção, dado que sou presidente da Junta de Freguesia de Monte Abraão, local onde residia Rui Cacho e onde reside a sua família. A Igreja de Monte Abraão Igreja de Nossa Senhora da Fé), donde saíu o seu funeral, é em Monte Abraão e não em Massamá.
Com os meus melhores cumprimentos,
Fátima Campos