sábado, 28 de julho de 2007

Na estante de culto






A Leve Têmpora do Vento
Carlos de Oliveira
Antologia Poética
Selecção e nota de João Pedro Mésseder
Edições Quasi, 2001






Só, em meu quarto, escrevo à luz do olvido;
deixai que escreva pela noite dentro:
sou um pouco de dia anoitecido
mas sou convosco a treva florescendo.

Por abismos de mitos e descrenças
venho de longe, nem eu sei de aonde:
sou a alegria humana que se esconde
num bicho de fábulas e crenças.

Deixai que conte pela noite fora
como a vigília é longa e desumana:
doira-me os versos já a luz da aurora,
terra da nova pátria que nos chama.

Nunca o fogo dos fáscios nos cegou
e esta própria tristeza não é minha:
fi-la das lágrimas que Portugal chorou
para fazer maior a luz que se avizinha.


Carlos de Oliveira nasceu no Brasil em 1921, filho de pais portugueses, e faleceu em Lisboa em 1981. Poeta e romancista, além de cronista, crítico e tradutor, despertou para a escrita no seio da geração dos neo-realistas, em Coimbra. Publicou, em prosa, Casa na Duna, Alcateia, Pequenos Burgueses, Uma Abelha na Chuva e Finisterra: paisagem e povoamento. Em poesia, escreveu Turismo (1942), Cantata (1960) e Pastoral (1977), entre outros.

1 comentário:

Pecadormeconfesso disse...

Só, em meu quarto, escrevo à luz do olvido;
deixai que escreva pela noite dentro:
sou um pouco de dia anoitecido
mas sou convosco a treva florescendo.