segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Conforme prometido, aqui ficam todos os poemas recebidos.
Prometo repetir este "espaço aberto".
Obrigada a todos e um Bom Ano Novo com muita Poesia.



Prece de Natal de 2006

Embora o frio aperte mais e mais,
Renasce em mim de novo a ilusão,
Que sempre agasalhou os meus Natais,
Enchendo de amor meu coração.

De novo em mim ressoa aquele brado
De Paz e Amor, qual Hino de Esperança,
Que pode transformar nosso passado
Num futuro de Paz e de Bonança.

E ante o Deus Menino que contemplo,
Que foi para todos nós, sublime exemplo,
De um Amor Fraterno, sem igual,

Eu peço: “Terminai com tanta dor.
Fazei em nós viver o vosso amor,
Que o Mundo viva em Paz Vosso Natal”.

Carlos Teles Gomes

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Natal...
época de Paz e Amor...
Jesus menino nasceu já Senhor.
Três Reis...
Trazendo veneração...
E ouro e outras merdas na mão!

POIS SIM! MERDA!
E se estiver errado...
seguro eu desta vez o cajado!

O Natal...
é quando o Sol representado
por um tal de Jesus oleado,
após três dias na "morte"
ressuscita para o norte!

O Natal...
essa época invernal...
repleta de pastores e ovelhas,
mas já não da Era de Peixes com orelhas
mas da Era do Capital!

Capital... Social!
Ahah! Sim! Social!
É fun-da-men-tal ser Social!
Que outra maneira teríamos de ser escravos
senão no Social?
...Escravos de Natal...

Não me levem a mal;
não sou demónio nem Satanás,
sou apenas um homem que faz
a pergunta fun-da-men-tal:

Porquê?

Porque no Natal,
pro-gra-mamos;
o materialismo nos infantes,
o despesismo nos adultos,
a inveja nos Amantes
e a ignorância nos incultos...

É que no fim,
quando o Pai Natal regressa ao caseiro,
quando os doces já estão no lixo,
é quando os débitos de Janeiro
finalmente são um bicho!
...E enquanto houver banqueiro
haverá frio em Janeiro!

Natal, Natal...
não me leves a mal;
não sou anjo nem querubim,
sou apenas um homem assim,

este escravo anormal...

Rui Diniz

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aperta-me
com mais força ainda
o natal chegou
e sinto tanto frio

esquece as palavras
não as quero ouvir
mentir em Dezembro é pecado
aperta-me em silêncio

não digas que me gostas
sinto tanto frio
basta que me apertes
porque é natal

esqueço as palavras
não as quero dizer
dizer a verdade em Dezembro é milagre
aperto-te em silêncio

não quero dizer que te gosto
basta que te aperte
sinto tanto calor já
agora que é capaz de ser natal

a. gil

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Natal 98

Uma estrela voou breve
e cintilante pairou
sobre as águas em tumulto
do manso Rio de Prata

Veio lembrar aos poetas
o sempiterno retorno
de mais um simples Natal

Joaquim Evónio

(in "Florilégio de Natal - Pelos escritores da Tertúlia Rio de Prata", Universitária Ed., 1998)

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Mas quais Natal, qual carapuça!

“Está mal posta, essa bolinha”
disse o Menino Jesus
viu a árvore de Natal
qu’era um pinheiro de truz

“Então põe tu, és tão bom”
disse então o Pai Natal
e a seguir pediu logo
para baixarem o som

AC/DC não é coisa
assim muito natalícia
vale mais comprar flores
uma rosa, uma estrelícia

Pai Natal foi à janela
e viu o trenó bloqueado
as duas renas sem trela
com um ar muito enjoado

“Quem bloqueou o trenó?”
perguntou o Pai Natal
e responderam-lhe as renas
“Vão ali no Chaparral”

No Chaparral branquinho
da cor da neve e do vinho
(bem, pelo menos algum
e também latas de atum)

fugiam os Três Reis Magros
avençados pela EMEL
bebiam leite da Agros
comiam bolos de mel

O Pai Natal foi-se a eles
e com maus modos gritou
“Seus palhaços de Belém,
querem a mal ou a bem?”

O Belchior ficou fulo
E disse prò Pai Natal
“Ó meu, eu não tenho culpa
que sejas um anormal”

“Mete o talão no focinho
nas tuas renas, visível
ou levas murro na tromba
e desligo-te um fusível”

Menino Jesus chegou
Numa vaquinha montado
ajudando à confusão
par de cornos embolado

“Não sejam assim, ó reis
estais tão magros de maldade

as multas pelo Natal
são enorme crueldade”

O Gaspar saiu do carro
olhou Jesus bem nos olhos
espetou-lhe na testa escarro
agarrou-o pelos folhos

“Ó meu puto atrevidão
isto são coisas d’adultos
levas já um estaladão
e não sonhes com indultos”

Menino Jesus chorou
e pensou rapidamente
se Natal é quando um homem quiser
eu estou urgentemente, mas é que é mesmo urgentemente
a necessitar completamente de uma cerveja da Unicer


Uma Santa Páscoa a todos os frequentadores (voluntários e involuntários) da Viscosidade-Eterna.blogspot.com
Luís Graça

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Um quase poema de Natal

em vez de um menino com incenso e mirra
e uma estrela no caminho
nasceu um Pai Natal com telemóveis e MP3
num trenó bem carregadinho
a vaca e o burro voltaram para o curral
e do estrangeiro importaram-se renas
porque nem sequer existem em Portugal

Carlos Vaz

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Natal com Luz

Estrelas brilhantes, no ar
De beleza sem igual
Olha-as a gente a pensar
Que são pedaços de cor
Arrancados com amor
À magia do Natal.



Natal sem Luz

Nos olhos desta criança
Em noite fria, cinzenta,
Cresce a vida, brota a esperança
E pensa;
"Nasci como outro igual
Sem jumento, sem rei mago,
Neste país Portugal
De presépio sofismado.
Para a esmola estendo a mão
Reflexo de mim, na montra iluminada.
Fria moeda que recebo para pão
Deus te ajude, benfeitora abençoada,
Seara ao vento, terra seca, rosnar do cão
No portal da casa, aldeia afastada
Que guardo em mim, recordação
Da foice, da enxada, desfolhada,
Do pai, da mãe, de meu irmão,
Aroma da pedra enfarinhada
Velas brancas do moinho. Meu pião
Brinquedo mais bonito na minha consoada,
Cristalina lágrima a cair no chão.
E o celebrante de voz engordurada,
Palavras de pecado, absolvição,
Deixai vir a mim as criancinhas
Anjos brancos, asas de renda,
Respeitar o jejum e as alminhas,
Nos céus ordena o Senhor enorme,
Primeiro Jesus
Depois a fome."

Luís Pinto
Dezembro/06


Este poema do Luís Pinto pode ser ouvido na voz do Luís Gaspar, na sua rúbrica "Lugar aos Outros" do Estúdio Raposa. Acesso directo, aqui.
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NATAL

NA TAL praça
Onde ergueram a árvore
Dormem homens
Que perderam os sonhos.

NA TAL árvore
Brilham estrelas
Que faltam nos olhos
Dos homens que dormem na praça.


Há uma praça
Onde ergueram uma árvore
E onde dormem homens
Que não têm NATAL.

José Luís Garcês

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Eram dias de plena Luz
Quando eu nasci...

Eram!!!!

O meu rosto
era como o Sol...

Era!!!

Eram
Sorrisos
entusiasmos
Sortilégios e magias
E um vale de utopias

Eram!!!

Natal:
Venha o diabo e escolha!!!

Venha!!!!

Joaquim Cascais

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Neve


hoje, a neve que cai é quente.

há uma brisa serena que desce mansamente sobre a mão.
há uma luz incandescente de dentro dos olhos,
que nos dias, tantas vezes esquecemos de acender,
e que é tão fácil de encontrar dentro do coração.

pessoas passam. as crianças correm, felizes.
luzes e enfeites dourados pendem sobre a rua.
acendem e apagam. acendem e apagam.
como a noite, maior, que acende e apaga no rosto da lua.


olho para dentro dos teus olhos,
e eles brilham mais que o normal.
pela janela do quarto vejo a neve quente a descer.
pego na tua mão como se pegasse no teu coração e digo:
— Esqueci-me de te dizer, Feliz Natal!


— Hoje não quero mais presentes — disse.
olhei para junto da árvore, e reparei que estava vazia.
a lareira ardia. incandescente.
mas não me importei. com os olhos rasos de água,
tornei a dizer: — O teu coração, é o meu maior presente!


continuou a nevar. a noite inteira nevou, e eu sonhei,
que a luz incandescente de dentro dos olhos,
seria sempre assim…

Pedro Lucas

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Natal és tu
Natal sou eu
Natal somos nós
E eles, e eles…
Natal é sempre que dás a mão
Natal é perdão
É Amor, alegria, sofrimento e dor...
Natal é sempre que ajudas alguém
aquele com um andar oscilante,
com uma lágrima constante,
por um caminho diferente…
Natal foi ontem
Natal é hoje
E, será amanhã…

Poesia Portuguesa

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Deixo-vos ainda um poema de David-Mourão Ferreira, na voz de Luís Gaspar:


Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...

Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.


Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

6 comentários:

Anónimo disse...

BOAS-FESTAS NATALÍCIAS!

FELIZ ANO 2007


- Belíssimos Poemas!


ABRAÇO

Anónimo disse...

Pelo que se vê, a subversão pode ser uma forma de reagir à tristeza de um Natal muito diferente do vivido quando éramos crianças.
Li ontem um extenso artigo do Bénard da Costa no PÚBLICO, revoltando-se com uma professora que quebrou o mito do Pai Natal às netas do Bénard.
E assim estamos: o que é mentira? O que é magia?
Uma coisa é agirmos o ano todo de acordo com os nossos princípios; outra é aceitarmos de bom grado toda a hipocrisia do Natal.
Se o Natal não dói a muita gente, pode-se perguntar qual é o problema deles. Ou estão completamente isolados no seu mundo ou são completamente santos.
Seria interessante colocar câmaras de vídeo nos retrovisores dos automóveis e verificar os rios de veneno que correm nas conversas das pessoas cinco minutos depois de terem abandonado os lares em que passaram a Consoada.
Bom 2007 para todos. Com muita coragem.

disse...

Obrigada por fazer nascer poesia e de uma forma especial neste dia.
Excelente critica do post anterior (luis graça)
Que cada dia de 2007 seja um poema.
Um abraço
Te

Poesia Portuguesa disse...

Parabéns pela iniciativa e a quem aderiu. Gostei especialmente de dois poemas, mas são todos muito bonitos.

Deixo aqui um poeminha de palavras simples, mas do coração...

Natal és tu
Natal sou eu
Natal somos nós
E eles, e eles…
Natal é sempre que dás a mão
Natal é perdão
É Amor, alegria, sofrimento e dor...
Natal é sempre que ajudas alguém
aquele com um andar oscilante,
com uma lágrima constante,
por um caminho diferente…
Natal foi ontem
Natal é hoje
E, será amanhã…

Um abraço e FELIZ ANO NOVO
;)

Inês Ramos disse...

Obrigada!
Vou adicionar o seu poema aos outros.
Feliz Ano Novo também para si.
:-)

Anónimo disse...

Tanta alma que tu tens Inês!
As palavras ditas e sentidas ganham outra vida, respiram, não soletram, moldam a forma e dão calor à frieza.
Ao ouvir o que escrevi encontrei, nas três vozes declamadas, personagens que estava longe de conhecer.
O Luís é imparável.
E tu, és Tu!
Luís Pinto