terça-feira, 28 de novembro de 2006

Na estante de Culto







Else Lasker- Schüller
, uma grande poetisa lírica, foi também um expoente do movimento expressionista alemão e uma judia publicamente assumida.
Conviveu com Franz Werfel, Franz Marc, Oscar Kokoschka, Georg Trakl e Karl Kraus (entre outros) nos cafés de Berlim, o segundo lar de muitos jovens artistas e intelectuais berlinenses da época, tendo sido distinguida pela sua obra em 1932, com o prestigiado “Kleist Prize”.
Em 1933 foi para a Suíça, fugindo ao nazismo, de que também foi vítima. Fixou-se mais tarde na Palestina, onde viveu na miséria até à morte.
Else conhecia a magia das palavras e criou uma poética profética, conjurando nos seus versos um mundo melhor e mais belo, embelezando o mundo com a magia da sua fantasia, tentando torná-lo luminoso e sereno, como nestas “Baladas Hebraicas”, recriações livres de figuras bíblicas.
Morreu em Jerusalém em 1945 e foi sepultada no Monte das Oliveiras. Não chegou assim, a assistir ao nascimento da nação de Israel.














Ester

Ester é esbelta como a palmeira brava,
Os pés de trigo têm o cheiro dos seus lábios,
E os dias de festa que em Judá se celebram.

De noite, o seu coração repousa sobre um salmo,
Os ídolos escutam nas salas do palácio.

O rei sorri se vai ao seu encontro —
O olhar de Deus está sempre posto em Ester.

Os judeus jovens fazem canções à irmã,
Gravam-na nas colunas da sua antecâmara.


O meu povo

Apodrece o rochedo
De onde provenho
E ao sol entoo os meus cânticos sagrados...
Subitamente, precipito-me do caminho
E águas murmuram em mim
Na distância, só, sobre pedras de lamentação,
Em direcção ao mar.

Jorrei-me para tão longe
Do mosto mal fermentado
Do meu sangue.
E sempre e ainda o eco
Dentro de mim,
Quando, voltados para Oriente,
Os ossos do rochedo apodrecido,
O meu povo,
Lançam um grito terrível para Deus.


Rute

E tu vens procurar-me junto às sebes.
Oiço o soluçar dos teus passos
E os meus olhos são pesadas gotas escuras.

Na minha alma nascem as flores doces
Do teu olhar e ele enche-se
Quando os meus olhos se exilam para o sono.

Na minha terra,
Junto ao poço, está um anjo:
Canta a canção do meu amor,
Canta a canção de Rute.


“Baladas Hebraicas”
Else Lasker-Schüller
Tradução e apresentação de João Barrento
Assírio & Alvim (Colecção Documenta Poética)
2002

Bilingue

Edição facsimilidada que reproduz a edição publicada em 1986 pela Deutsche Schillergesellschaft Marbach a partir do manuscrito original conservado no Deutsches Literaturarchiv.

É claro que recomendo.

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