domingo, 10 de setembro de 2006

Quando o teu andar…

Quando o teu ser me enlevava em comoções
E eu em ti me extasiava no infinito,
Não viveu esse dia tanto ser aflito,
E os oprimidos, num inferno de milhões?

Quando o teu andar me punha em febril estado,
Outros trabalhavam; na Terra eram ruídos.
E havia o vazio, Homens sem Deus, despidos,
Nascia e morria tanto ser desgraçado.

Quando, prenhe de ti, me evolava em essência,
Havia tantos outros arfando em pedreiras,
Minguando à secretária, suando em caldeiras.

Vós, que arquejais em ruas e nos rios da vida,
Se há equilíbrio no mundo e na existência,
Como irá esta minha culpa ser remida?

Franz Werfel
1913
(tradução de João Barrento)



Franz Werfel
, um dos vultos do expressionismo, nasceu em 10 de Setembro de 1890 em Praga, onde frequentou o liceu. E é da sua época no liceu que datam as suas primeiras tentativas poéticas. Estudou também em Hamburgo.
Em 1912 foi para Leipzig, onde se associou à editora de Kurt Wolff. Aí conheceu Walter Hasenclever e Kurt Pinthus. Os três formaram o pólo de concentração dos poetas da geração expressionista. Entre 1915 e 1917, Franz esteve na frente de batalha. Casou em Viena com Alma Mahler e viveu em Breitenstein e Veneza. Depois, viajou pelo Próximo Oriente.
Em 1921 recebeu o Prémio Schiller e em 1925 o Prémio Grillparser. Em 1924 publicou o romance “Verdi”, que deu início ao ciclo dos grandes romances pós-expressionistas.

Quando a Áustria caiu nas mãos do exército alemão, os Werfels deixaram Viena e fugiram para França. Em 1940 o casal fugiu pelos Pirinéus em direcção a Espanha. Queriam deixar a Europa e ir para os Estados Unidos, conseguindo-o finalmente a bordo do Nea Hellas, o último barco que partia de Lisboa.
Nos últimos anos da sua vida, Franz Werfel viveu em Beverly Hills / Hollywood, onde morreu em 1945, com 55 anos, depois de dois ataques cardíacos.

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