domingo, 17 de setembro de 2006

Guerra Junqueiro

A água de Lourdes

Se ergueis uma capela à água milagrosa,
Esse elixir divino,
Então erguei também um templo à caparrosa
E outro templo ao quinino.

Se a água faz milagres, o que eu vos não discuto,
E por isso a adorais,
Ajoelhemos então em face do bismuto
e doutras drogas mais.

Façamos da magnésia e clorofórmio e arnica
As hóstias do sacrário;
Transformemos o templo enfim numa botica,
E Deus num boticário

Que a vossa água opere imensas maravilhas
Eu não duvido nada:
É o Espírito Santo engarrafado em bilhas,
É o milagre à canada.

Desde que se espalhou pelo universo o eco
Do milagre feliz,
Tartufo nunca mais encheu o seu caneco
Em outro chafariz

Guerra Junqueiro


Na voz de Luís Gaspar:



Abílio de Guerra Junqueiro nasceu em Freixo de Espada à Cinta (Trás-os-Montes) em 17 de Setembro de 1850.
Os pais deram-lhe uma educação religiosa e, aos 16 anos, Guerra Junqueiro matriculou-se na faculdade de Teologia, na universidade de Coimbra. Percebendo que não tinha nenhuma vocação religiosa, desistiu deste curso e matriculou-se em Direito, licenciatura que concluiu em 1873.
Iniciou a sua carreira literária no jornal literário “A Folha” dirigido pelo poeta João Penha. Aqui criou grandes relações de amizade com alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo (Geração de 70).
Influenciado por Baudelaire, Victor Hugo, Proudhon e Michelet, a sua obra poética tinha o intuito de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa da época.
É o mais típico representante da chamada Escola Nova. Poeta panfletário, as suas poesias ajudaram a criar o ambiente revolucionário que conduziria à República. Talvez o poeta mais popular da sua época. Não deve esquecer-se o que há de original e poderoso na sua obra: o extraordinário sentido de caricatura, a capacidade de exprimir as ideias em símbolos vivos e, ainda, a riqueza verbal e de imagens com que contribuiu para a renovação do verso português.
Morreu em Lisboa, na madrugada de 7 de Julho de 1923.

Obra:
Vozes sem Eco - 1867
Baptismo de Amor - 1868
A Morte de D. João - 1874
Musa em Férias - 1879
A Velhice do Padre Eterno - 1885
Finis Patriae - 1890
Pátria - 1896
Oração ao Pão - 1902
Oração à Luz - 1904
Poesias Dispersas - 1920

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