sexta-feira, 29 de maio de 2009

Na estante de culto


Um Ritmo Perdido
Poemas
Ana Hatherly
Edição de autor
Lisboa 1958




Este é o primeiro livro que Ana Hatherly publicou e com o qual iniciou a sua carreira literária, há 50 anos, antes de se enveredar pela poesia concreta. Mais tarde, em 1965, ligar-se-ia à poesia experimental e, em 1969, a exposição Anagramas, na Galeria Quadrante, marcaria o início do seu percurso nas artes plásticas.
É interessante conhecer, hoje, o livro com que Ana Hatherly se estreou, conhecendo-a nós como um dos grandes autores de poesia visual e experimental, percurso que iniciou colaborando no grupo de Poesia experimental, nos anos 60 e 70.
Este é o livro com que tudo principia.


Falas-me em asas,
Em voar...


Não vês que eu não sou nada,

Nem anjo nem pessoa,
Nem ave nem engenho,

Que é totalmente outra

A minha definição?


Eu não sou mais do que o próprio chão...


***

Nocturno

Com a mais fina areia se formaram duras pedras.

Com qualquer frágil flama se incendeia toda a terra.


Uma galáxia tem mil chamas

Consumindo-se e criando-se ininterruptamente...


A dor é toda uma,

Imutável e indiferente.


***

Ai que fadiga
De tantas árvores verdes

E tantas flores nos prados,

De tantas ondas azuis
E tantas nuvens brancas!


De tanta oferta rejeitada

E tanta promessa esquecida

— Ai que fadiga!

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