segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Festival Al-Mu'Tamid no Algarve

Ilustração de Norman MacDonald

O Festival de Música Al-Mu'Tamid vai já na nona edição e conta com músicos provenientes de Espanha, Marrocos, Síria, Irão e Argélia que irão animar o Algarve até finais de Fevereiro.
Este Festival abriu no passado dia 17 de Janeiro, em Loulé, e vai passar por outras localidades algarvias como Lagoa, Albufeira e Vila Real de Santo António.
Para festejar o poeta, haverá música sefardita, canto árabe e flamenco, guitarra flamenca, alaúde árabe, baile flamenco, e muita poesia.

O poeta alandalus Al-Mu'tamid, figura intelectual emblemática, grande impulsionador das artes e das letras, nasceu em Beja em 1040 e morreu em Marrocos em 1095. O “poeta do destino” foi rei de Sevilha, depois de ter sido Governador de Silves e é considerado um dos maiores poetas árabes.
Foi um dos que contribuíram para o aparecimento da nossa poesia trovadoresca e, pela excelência dos seus versos, foi imortalizado nas Mil e Uma Noites.

Poder
meu olfacto é teu odor delicioso
e o teu rosto o senhor dos olhos meus,
por seres minha, mesmo depois do adeus,
é que todos me chamam poderoso.

Tradução de Adalberto Alves



Evocação de Silves

Saúda, por mim, Abu Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava...
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.

Tradução de Adalberto Alves

(Poema enviado a Ibn 'Ammar, relembrando os tempos de juventude em Silves)

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