sexta-feira, 8 de setembro de 2006

O amor é loucura

Quem pisa do Amor a linha pura,
não aceita uma asa, retira-a prudente,
pois não é verdadeiro Amor, mas loucura,
o juízo do destino e a sábia gente.

Tal como Roldão não chega à ventura
a sua fúria há-de mostrar-se noutro acidente
senão, vede o sinal para enlouquecer
por bem querer outro e se perder.

Diversos são os efeitos, mas a loucura
uma, pois perde-os sempre
é como numa selva espessa, escura,
onde qualquer um erra o seu caminho
e aqui ou lá o extraviado passo procura.

Digo, a concluir, que é sobejamente digno
o que envelhece amando, outra grande pena
a ter perene o cepo que nos condena.

Hão-de falar: “Vós sois garboso
ensinando o outro a andar em erro cego.”

Entendo, respondo confuso,
agora que vejo claro o falso jogo.

Bem o procuro e julgo ter repouso,
fugir quero do erro e do acerbo fogo,
mas não acabarei assim o caso,
pois o mal me penetrou até ao osso.

Ludovico Ariosto

(tradução de Jorge Henrique Bastos)

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