tag:blogger.com,1999:blog-31463787.post5778657999283376381..comments2023-08-21T18:45:05.169+01:00Comments on porosidade etérea: Poemário Afonso Duarte on-lineInês Ramoshttp://www.blogger.com/profile/16286726494201599204noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-31463787.post-56596394985133103182008-01-17T04:38:00.000+00:002008-01-17T04:38:00.000+00:00"É o nosso Iraque".Foi assim que um amigo meu desc..."É o nosso Iraque".<BR/>Foi assim que um amigo meu descreveu as mortes dos nossos familiares e amigos, a partir de uma certa idade das nossas vidas.<BR/><BR/>Ontem morreu o Ulisses Duarte, fundador da Tertúlia Rio de Prata, que se reúne semanalmente há mais de 15 anos.<BR/><BR/>Morreu em casa, vitimado por um ataque cardíaco.<BR/><BR/>O funeral realiza-se hoje, quinta-feira, pelas 15 horas, saindo da Igreja de S.João de Deus, na Praça de Londres.<BR/><BR/>"Professor, este moço também escreve poesia". Foi assim que o dono do Rio de Prata me apresentou ao Ulisses, sentado ao balcão do restaurante, numa manhã de 1991 ou 1992. Era sábado. Eu tinha chegado de um torneio de pingue-pongue do Inatel e estava com mais ar de desportista do que poeta.<BR/><BR/>A empatia foi rápida e o Ulisses convidou-me a partilhar do convívio com o seu grande amigo António Manuel Couto Viana. Às quintas, a seguir ao almoço, reuniam-se no restaurante, para cavaquear, tendo a poesia como tema sempre presente.<BR/><BR/>Do dueto Ulisses/Couto Viana rapidamente se passou a quarteto, comigo e com o João Marcos (também já falecido). E a Tertúlia foi crescendo. E fui fazendo mais amigos.<BR/><BR/>O Ulisses Duarte tinha um nome bonito e pouco vulgar (Guilherme Ulisses). Era um homem de múltiplos talentos. Foi professor de Matemática, publicitário, vendedor ambulante, escritor, pintor e mais uma série de coisas.<BR/><BR/>Autor de letras de fados para Amália Rodrigues e do documentário "Madeira, Pérola do Atlântico".<BR/><BR/>Fugiu algumas vezes da PIDE. Esteve mais de 20 anos fugido da poesia, sem publicar. No princípio dos anos 90, a par do nascimento da tertúlia, bateu-lhe forte o desejo de voltar à escrita poética. E nasceu o seu poema épico "Poalhas do tempo". Foram "Os Lusíadas" do Ulisses. <BR/><BR/>Com ele fui ao Centro Nacional de Cultura, na António Maria Cardoso, onde ele foi várias vezes interrogado.Dessa vez, a ida à António Maria Cardoso foi uma alegria e uma excitação.<BR/>"Poalhas do Tempo" foi apresentado por um amigo comum, o poeta Paulo Brito e Abreu.<BR/><BR/>Depois desse vieram mais livros. E muitos prémios em concursos de poesia. Em rima livre, em quadra popular ou noutro género. O Ulisses era um artífice da poesia. Davam-lhe o mote, ele escrevia.<BR/><BR/>Também prosador, os seus méritos literários eram mais sólidos no campo da poesia. Homem marcadamente de esquerda, ainda assim não desdenhava das tradições católicas portuguesas. E foi assim que nasceu o "Florilégio de Natal". Livro colectivo da Tertúlia Rio de Prata, com os seus poetas a contribuírem todos os anos com um poema de Natal.<BR/><BR/>Foi o Ulisses que teve a iniciativa de me publicar na Universitária Editora o livro de poesia lírica "A Idade das Trovas". Foi o Ulisses que apresentou o livro na Casa Fernando Pessoa, usando de palavras que me tocaram.<BR/>Também foi o Ulisses que me convidou a ceder um poema para a Antologia da Poesia Erótica, da mesma editora.<BR/><BR/>Literariamente, embora apresentasse vários registos, era um homem marcado pelo neo-realismo. Tanto a poesia como as crónicas eram marcadas por uma preocupação social.<BR/><BR/>Podia ser extremamente cortante, como na rubrica "Gazetilha". Ou profundamente terno, nos poemas em que falava do amor de uma mãe pelo filho ou em que aflorava outros dramas humanos.<BR/><BR/>Era, para além de tudo, um belíssimo declamador. E sabia emocionar os que o ouviam. Em Coimbra, uma noite, no bar "A Carruagem" levou a cantora Né Ladeiras às lágrimas, ao ouvi-lo recitar um poema.<BR/><BR/>Homem do Norte, puto reguila de Matosinhos, filho de gente respeitável, manteve o seu sotaque até ao fim.Gostava de ver o seu FC Porto na televisão, mas em jovem distinguiu-se como guarda-redes de andebol.<BR/><BR/>Era membro do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Escritores. Com o Ulisses partilhei também esse belo passeio aventuroso que foi a Associação Literária SOL XXI, que durante mais de 16 anos editou uma bela revista, muito por mérito e devoção de Luísa de Andrade Leite.<BR/><BR/>Tinha também um temperamento explosivo e desassombrado. Se nos unia o gosto pela subversão, eu sabia que não se podia levar muito a sério certas frases do Ulisses, ditas no calor de um qualquer debate.<BR/><BR/>Ulisses Duarte era um homem das letras e da poesia. Com ele muito aprendi.<BR/><BR/>É o nosso Iraque. Desta vez, a baixa foi do comandante, depois do Manuel Vidas, do João Marcos, da Edite Arvelos, do Rui Cacho.<BR/><BR/>Ficam os livros, os poemas e, sobretudo, as memórias. Das gargalhadas que demos, dos sorrisos que trocámos, das histórias que ouvimos.<BR/><BR/>É muito.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-31463787.post-74327334440337459802008-01-17T02:43:00.000+00:002008-01-17T02:43:00.000+00:00Que belíssima surpresa!Agradecido,joaquim alvesQue belíssima surpresa!<BR/>Agradecido,<BR/><BR/>joaquim alvesJoaquim Alveshttps://www.blogger.com/profile/16141740185634512831noreply@blogger.com